Pelos momentos mais estranhos, inusitados e engraçados que pude presenciar e por uma ótima amizade, dedico esta crônica a um dos meus melhores amigos, L. P.
Tive dificuldade de escrever uma crônica em que L.P. e eu fossemos os protagonistas. O problema não está na quantidade de experiências, que na verdade é enorme, mas sim no nível de cada uma delas. Tem certas histórias que devem ser mantidas entre amigos e raramente reveladas, como qualquer outro bom amigo faria (ou não ;D). Já outras, podem ser reveladas e apreciadas, como acho que é o caso da crônica abaixo.
Algum tempo atrás, tínhamos aula à tarde e geralmente nos encontrávamos de manha na biblioteca do colégio para estudar. Ou melhor, tentar estudar e às vezes nem tentar. Era frequente a biblioteca ficar vazia, contudo nesse dia, em uma das mesas estava alguém que conseguiu desviar totalmente nossa atenção, principalmente a atenção de L.P.
- Cara, eu preciso chamar a atenção dela. Cansei de ser ignorado... nem olha pra cá !!!
- Uai cara e você quer fazer o que ? Levantar da cadeira e gritar: Ei !!! Eu to aqui !? Ela mal fala com você !! Se fizer isso vai é assustá-la !!
- Bem, pelo menos ela vai ter olhado pra cá, e não vai correr de qualquer um, mas sim de mim.
- Hahahahahahaha. Tem que ser natural. Chegar na mesa dela e simplesmente falar um “Oi !”, não vai fazer ela ter medo de você.
- Ela tá naquela mesa há muito tempo. Tinha que ter cumprimentado ela quando chegou.
- Uai, faz de conta que tá com dúvida em alguma matéria.
- É isso!!! Cara você é um gênio!!!
Fiquei meio assustado. Era, e ainda é, frequente ele dizer isso, e o que sempre vem depois é uma ideia nada convencional.
- Faz de conta!! Encenação! Teatro! É isso que vamos fazer!
- Teatro?? Hahahahaha, você ficou maluco? Nós? Fazendo um teatro pra tentar chamar a atenção de uma garota? Cara, isso é ridículo!! Hahahaha
- Vamos fingir uma briga aqui. – disse ele ignorando totalmente o que eu disse e pensando em como iria ser.
- Uma briga?
- É cara, preciso de ajuda.
Fiquei meio irritado e resolvi entrar na suposta encenação para acabar logo com isso. Já fui começando a briga com voz suficientemente alta ao ponto das outras mesas escutarem:
- Quem você pensa que é ao ponto de não fazer o trabalho?
- Eu sou o líder do grupo, seu f*d*p* - disse L.P. percebendo que eu já tinha começado a encenar.
- Então faz o seguinte. Pega essa m**** de trabalho e faz você. Sozinho!! Além do mais eu já passei de ano mesmo. Não preciso de 20 pontos pra passar!!!
- E se eu não quiser?
- Engole!!!
Ao dizer isso me virei e fui biblioteca afora, tentando manter a irritação em meio a vontade de rir. Logo após de eu ter saído L.P. também saiu e disse o seguinte:
- Cara eu acho que elas olharam, hahahahaha
- Você acha? Mas nem pra olhar pra cara delas para confirmar se deu certo ?
- Ah, vergonha né cara?
- Hahahahaha, e agora vey? Com que cara que a gente vai voltar pra lá? Pq meus materiais ficaram lá e não dá pra gente voltar fingindo que nada aconteceu.
- Eu vou voltar primeiro. Quando você voltar, faz de conta que tá pedindo desculpas. Não precisa ser em voz alta, só mostrar que apertamos as mãos e tá tudo certo.
Dito e feito. Sentei-me, pedi desculpas e visivelmente o cumprimentei. E logo depois de costas para a suposta mesa, rimos tudo o que tínhamos direito e concluímos que não possuíamos absolutamente nenhum senso de ridículo.
Hoje em dia essa é apenas mais uma dentre tantas outras histórias, que, com toda certeza dificilmente serão esquecidas. Já entrando na faculdade, L.P. terá agora que ir para longe de alguns membros da família e dos amigos para garantir seu futuro, contudo sinto que esse é apenas o começo do começo de várias outras histórias ridículas e estranhas só possíveis com este bom e velho amigo que soube ser companheiro por todo esse tempo.
E o que aprendi com isso tudo? Bem quando a vida pedir um pouco de improviso irei ter o orgulho de usar a sabedoria adquirida na “Escola de Teatro L.P.”: Se nada der certo, faça um teatro.